o município de Rio Formoso, na Mata sul de Pernambuco, os moradores aproveitaram a manhã e a tarde deste domingo (4) para limpar as casas e as ruas da cidade, depois da passagem destruidora das enchentes que deixaram marcas em 31 municípios, segundo o governo do estado. Mesmo sujeitas a riscos à própria saúde, muitas pessoas tentaram reaproveitar objetos perdidos em meio à lama.
Tentando reaproveitar um colchão, o professor Ivan José da Silva reconhece os riscos de doenças, mas tenta reaproveitar os pertences que não se perderam nas enchentes. "Eu sei que tem risco de leptospirose, mas se estiver bom, vou usar. Se não der, vou encontrar quem queira", diz.
Passada a chuva, o tempo é de contabilizar as perdas e de tentar reutilizar o que foi retirado da lama para o morador, já que a inundação atingiu a marca de 60 centímetros em sua residência. "Já lavamos a casa e estamos tentando recuperar os eletrodomésticos. Estamos aproveitando os dias de sol para secar o que sobrou", conta.
Até a sexta (2), o governo de Pernambuco contabilizou 47,4 mil pessoas que estão fora das residências nos municípios da Mata Sul e do Agreste devido às enchentes. Neste domingo (4), o número foi atualizado para 46.857 mil pessoas, sendo 3.252 desabrigados (abrigados em prédios públicos) e 43.605 desalojados (abrigados em casas de parentes ou amigos).Quem também aproveita o sol para retomar a vida no município é a dona de casa Cícera Maria da Silva. Apesar da dor de coluna, ela se esforça para organizar a casa depois da passagem da enchente, mas divide o sentimento de cansaço com a gratidão pelas doações entregues por voluntários. "A trabalheira tem sido grande, mas cada um chega com um pouquinho para ajudar a gente", afirma.
O dia também foi de atendimentos no hospital de campanha do Exército montado no município, em funcionamento desde a sexta (2). Ao todo, 42 militares e profissionais da área de saúde do município estão atuando no local. Até o sábado (3), foram atendidas 280 pessoas de Rio Formoso e de cidades vizinhas.
De acordo com a coordenadora da unidade de saúde, coronel Sandra Andrade, 70% dos pacientes são adultos e idosos. "Essa demanda está dentro do planejado. Realizamos atendimentos de doenças infecciosas, viroses e de pessoas se queixando de vômitos e diarreia", detalha a gestora.
Desde o início do funcionamento do hospital de campanha, na sexta (2), 17 casos mais complexos foram transferidos para outras unidades de saúde, mas, ainda de acordo com a coronel responsável por coordenar as operações no local, o número está dentro do planejado pelas equipes. "Foram pacientes com infarto ou casos cirúrgicos que precisaram ser transferidos, mas tudo está ocorrendo dentro do previsto", afirma.
Desde o final de semana dos dias 27 e 28 de maio, chuvas fortes atingem várias regiões do estado, provocando enchentes de rios e deslizamentos de barreiras. Seis pessoas morreram, sendo duas no Recife, duas em Caruaru e duas em Lagoa dos Gatos. De acordo com dados do governo do estado, o número de desabrigados e desalojados chegou a 55,1 mil pessoas no dia 31 de maio.
Na terça-feira (30), o governo do estado decretou emergência em 24 cidades pernambucanas. No domingo (28), o presidente da República, Michel Temer, veio ao Recife e autorizou o envio de ajuda humanitária. Ele ainda se comprometeu com a liberação de uma linha de crédito de R$ 600 milhões, junto ao BNDES, para obras no estado.
Na quarta (31), o governador Paulo Câmara visitou as cidades de Catende e Ribeirão, na Zona da Mata Sul, para acompanhar o planejamento de ajuda humanitária às famílias desalojadas e de limpeza das áreas atingidas pela água, feito por 'gabinetes de crise' instalados nos dois municípios.
Para ajudar as famílias que perderam praticamente tudo nas enchentes, diversas instituições e entidades realizam arrecadação de alimentos não perecíveis e objetos de higiene pessoal. Há pontos de coleta no Recife, em Olinda e nos 15 campi do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE).
No Nordeste, as chuvas ocorrem por causa de um fluxo de vento que vem do oceano carregado de ar úmido, formando nuvens carregadas na costa e na Zona da Mata. De acordo com o meteorologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia, trata-se de um sistema chamado onda de leste, comum nesta região no outono e inverno.Por G1 PE